sábado, 29 de novembro de 2008

"É o que dizemos quando não queremos dar parte de fraco, dissemos, Bem, e estávamos a morrer, a isto chama o vulga fazer das tripas coração, fenômeno de conversão visceral que só na espécie humana tem isso de reservado."
José Saramago, em Ensaio sobre a cegueira

Neste ano, deixei os livros de literatura pelos cadernos de estudo, pelas revistas de informação e pelo jornal Nacional. Continuei a ler, porém bebi de outras fontes. Isso foi bom, mas deixa um vazio. Um vazio literário aqui dentro, a falta de encontrar palavras para os verdadeiros significados que o eu quer transmitir. Qual é o sentido saber a palavra albedo e estequiométrico se, para mim, elas significam nada? Elas significam 1 ano de repressão da minha alma literária. Eu quero viajar muito, ler muito, dançar muito e conversar muito. Porque, seu eu viver nesse mundo "plurinformacional" toda a minha vida, eu piro! Me mate, porém não faça isso aos poucos...

Obs: O que a falta de criatividade não faz

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Agonia, agonia, agonia...
mania, mania, mania...
"roí, roí, roí"
Dizem que a espera é breve, mas não parece. Talvez seja apenas a minha imaginação.
É, talvez... eu espero demais do futuro. Mas ele contesta, diz que é independente. Tadinho... sou até condescente com ele, mas nem sabe que sou eu que o faço.
Só que não mais. Agora o meu futuro só Deus sabe.

domingo, 9 de novembro de 2008

Roubei do orkut de Iara.





terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ela tinha cara de tatu

Ela tinha cara de tatu. Um tatu bonito, mas um tatu. Com orelhas eretas e triangulares, focinho pequeno e alongado, olhos miúdos e esféricos que pareciam duas bolas de sinuca número 8. Quando tinha cinco anos de idade, na sala de aula, a professora quis ouvir de cada aluno o maior sonho deles. A meninada se exaltou. Queriam ser ator, dançarino, médico, até viajar pra Oropa. Ela respondeu: “queria ter cara de gente”. “Não diga isso”, bradava a professora, “sua cara de tatu é linda!”. “Então por que não tenho amigos? Por que, quando passo, me pedem para cavar buracos? Por que as outras crianças se dão as mãos, porém a minha continua vazia?”. A professora se calou, achou que isso devia ser discutido com um analista. As perguntas já eram de cunho existencial.
Ela não teve dificuldade em encontrar um colégio que a aceitasse, apesar da cara de tatu. Todos os colégios da cidade a queriam. Seria uma boa propaganda: “somos a favor da democracia animal e, de quebra, estamos preservando animais em extinção”. Mas ela não era um animal diferente. Ela era humana, só tinha cara de tatu. Ninguém entendia isso. Ninguém entendia por que ela só ficava na biblioteca, folheando os livros que já lera. Ninguém entendia por que ela não ria. Ninguém entendia por que ela não tinha nome.
Um dia ela aprendeu a se enrolar, ficar que nem uma bola. Achou que estava entrando em metamorfose, iria virar um verdadeiro tatu qualquer dia desses. A princípio ficou com medo, relutou bastante, mas queria se enrolar mais. A vontade era muita, o desejo era tentador. Quando se enrolava, saía da vida que tinha, e ficava só com ela. Quando estava enrolada não tinha mais mãe, pai, professora nem tia. Era uma força que a levava e não dava mais para segurar. Ela não queria segurar. Virou vício quando ela se deixou levar, nas enroladas durante as aulas, ou naquelas depois da festa de integração. Descobriu que sempre pôde fazer isso, mas nunca o fez. Porque antes não era tão bom. Antes não era tão errado. E ela continuava se enrolando. Enrolou-se até fazer seu universo, seu infinito, sua vida sem luz.